Ninguém é capaz de desfrutar de plena saúde. O Ser está fadado ao infortúnio da rotina e dos males que o rodeiam. A sina do perigo atrás da porta, embaixo da cama, no estranho com quem se conversa. O carma de viver num mundo d'outros, sempre ameaçado, ao invés do conforto(?) da própria companhia.
Queria eu viver dentro duma bolha... protegida do sol que queima, do barulho lá fora, da chuva que enruga a ponta dos dedos e que pode me afogar; protegida de todos aqueles que possam me amar e, assim, me ferir; protegida de diagnósticos pessimistas sobre olhos cavados e respirações ineficientes; protegida de saber que seu corpo não funciona como deveria; protegida dos outros e de mim mesma.
Apresente-me aquele que for são de corpo e alma; apresente-me alguém, portanto, que respire, veja, sinta, ouça, experimente como o corpo normal sugere; alguém, portanto, que não ame, não sofra, não chore, não seja.
Queria eu viver dentro duma bolha. Apenas eu e meu pouco ar lá dentro. Sem decepções, falsas expectativas, sem desilusões amorosas. Apenas eu na minha bolha. Eu poderia ser eu mesma, pois não seria julgada, olhada; na verdade, nem precisaria interagir com nenhuma falsa modéstia. Teria meus delírios em paz, com meu pouco ar, minha pouca visão, em meu Eu perturbado de pouca idade. Lá o tempo não correria. Poderia chorar sem motivo, amar sem loucura, vegetar de felicidade. Afinal, o que é a arte sem sofrimento?
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