Como vocês já sabem, sou aluna Waldorf, isto é, estudo em uma escola cuja pedagogia alemã baseia-se no conhecimento profundo do desenvolvimento humano. Escrevi há um tempinho atrás uma postagem explicando os conceitos, objetivos e metodologia da pedagogia Waldorf:
"O que é a Pedagogia Waldorf? A pedagogia Waldorf baseia-se em uma abordagem que trata das necessidades e do desenvolvimento da criança em crescimento e do adolescente na fase de amadurecimento. Os professores Waldorf empenham-se em transformar o ensino em uma arte que eduque a criança como um todo – o fazer, o sentir e o pensar. O ser humano é desenvolvido integralmente, de acordo com suas características pessoais, e considerando-se seu pensar, sentir e querer. O ensino teórico é sempre acompanhado pelo prático, com grande enfoque nas atividades corpóreas, artísticas e artesanais."
(Trecho da postagem: "A Arte de Ser Waldorf". Ler post completo)
Esta postagem foi, sem dúvida, a mais acessada do blog, com 533 visualizações no Brasil e fora dele, em apenas um mês. Entretanto, noto que pequei na falta de informações sobre o Ensino Médio Waldorf, que é algo que sempre gera muitas dúvidas e preconceitos.
Segundo o criador da pedagogia, o antroposofista austríaco Rudolf Steiner (1861-1925):
"A intenção de um ensino médio Waldorf é formar jovens que possam fazer as suas próprias escolhas com crescente responsabilidade, autonomia e solidariedade, baseados na sua auto-avaliação e na avaliação de cada situação em suas vidas; pessoas que se sintam seguras, e livremente responsáveis, para trilhar o próprio caminho, com determinação, alegria e clareza de pensamento.
Na adolescência, o jovem conquista a capacidade de julgar mediante o uso pleno de seu pensar. Surgem o idealismo e a posição crítica perante o mundo. O jovem quer atuar, questionar, entender o mundo que o rodeia e aquele mundo interior que ele percebe com crescente intensidade. Agora o ensino precisa estimulá-lo a refletir sobre a realidade externa e sobre si mesmo. Educar o pensar é o desafio do ensino médio – um pensar livre de mecanismos e metodologias que massificam posturas e comportamentos, livre de preconceitos e formas preconcebidas, numa busca autêntica do desabrochar da individualidade."
(Fonte: http://www.federacaoescolaswaldorf.org.br/)
Até aí tudo bem. Entretanto, as más línguas costumam espalhar certos mitos sobre o Ensino Médio Waldorf, como, por exemplo, que não há a preparação para o vestibular. Decidi, então, esclarecer essa questão com uma pesquisa feita na Escola Waldorf Rudolf Steiner (São Paulo - SP), (a pioneira na aplicação da pedagogia no Brasil) na qual foram entrevistados 135 ex-alunos que se formaram entre os anos de 2003 e 2006. Os realizadores da pesquisa (Wanda Ribeiro e Juan Pablo de Jesus Pereira) são "pais Waldorf" e provam a seguir que todas as afirmações que são feitas sobre o Ensino Médio Waldorf não possuem fundamentos, não passam de mitos e pré-conceitos. Confira:
"Apesar de a Pedagogia Waldorf não visar ao preparo para o vestibular, dentre os ex-alunos que
prestaram vestibular, todos foram aprovados.
Este estudo mostra outra informação significativa: 91% dos entrevistados prestaram
vestibular e foram admitidos numa primeira tentativa, 8% na segunda tentativa e apenas 1%
depois de uma terceira tentativa. Importante ressaltar que 21% dos entrevistados foram
admitidos nas universidades sem terem feito cursos preparatórios para vestibular. A grande
maioria dos estudantes das escolas particulares no Brasil costuma fazer estes cursos. "
Conclusão da pesquisa:
Mito 1: os ex-alunos têm muita dificuldade em passar no vestibular.
- 100% dos que prestaram vestibular passaram.
Mito 2: os ex-alunos só passam vestibular de faculdades de 2ª expressão
- 68% formaram-se ou estão estudando em faculdades de primeira expressão.
Mito 3: os ex-alunos não saem capacitados para concluir uma faculdade
- 92% dos que entraram na faculdade concluíram o curso.
Mito 4: a Pedagogia Waldorf só forma artistas
- apenas 12% optaram por áreas artísticas.
Mito 5: a Pedagogia Waldorf não prepara para o mercado de trabalho
- 99% estão atuando no mercado de trabalho.
(Fonte: http://www.ecswe.org/)
Como podem perceber, as Escolas Waldorf são muito mais habilitadas e competentes do que a maioria das pessoas imaginam.
Para finalizar, segue um texto reflexivo muito oportuno, escrito pelo meu professor e tutor de classe Alexandre Ferlim:
Para finalizar, segue um texto reflexivo muito oportuno, escrito pelo meu professor e tutor de classe Alexandre Ferlim:
Reflexão sobre o Ensino Médio
"Hoje em dia, há
uma grande preocupação com o alcance do sucesso, seja ele profissional ou
pessoal. Para tanto, experimentam-se possibilidades várias, as quais nos são
oferecidas diariamente em jornais, televisão, internet ou quaisquer outros
veículos de comunicação.
Esse acesso à
informação é benéfico e bem vindo, mas há que se preocupar com a qualidade e
veracidade do que se escuta e se lê. Quando o assunto é educação, então, o
cuidado deve ser maior.
Há um discurso
pré-fabricado e, infelizmente, aceito na sociedade comum, de que só são obtidos
bons resultados quando estudamos em escolas altamente equipadas e de trabalho
voltado para as elogiadas aprovações nos melhores vestibulares. Mas, espera aí,
estamos falando de educação ou de treinamento?
É fato que existem
diferenças absurdas entre educar um ser humano e moldá-lo para que faça uma
prova específica que “determinará toda a sua vida”. Educar é dar valores,
discutir possibilidades, trabalhar a liberdade com responsabilidade. Isso não se
aproxima nem um pouco do estímulo à competitividade, do desenvolvimento da
soberba e da certeza de que “sou melhor que os outros por estudar aqui”.
O processo
educativo existe para criarmos autonomia, autoconfiança e, sobretudo, respeito
pelas diferenças; não para o massacre mental, supervalorizando um único evento
na vida de um estudante – o vestibular. Mais do que óbvio, quando somos
preparados intelectual e emocionalmente, tendemos a ter sucesso em nossas
escolhas e nos afastamos um tanto dos sentimentos de fracasso, angústia e
ansiedade, tão presentes na época dos vestibulares.
Nesse sentido,
enquanto parte de um corpo docente que se interessa pelo pleno desenvolvimento
do ser, reforço aqui a competência que se firma anualmente no trabalho desenvolvido
pelo Ensino Médio da Escola Waldorf João Guimarães Rosa. Temos, todo ano,
alunos aprovados em renomadas universidades, sejam elas públicas ou
particulares.
Há ex-alunos na
USP, UNESP, UFSCAR, na considerada melhor escola de Gastronomia do país – em
Águas de São Pedro -, em bons cursos da Instituição Moura Lacerda, Barão de
Mauá, etc. Esses são alguns exemplos.
Não há como negar um bom trabalho
realizado quando um aluno vindo de escola pública – declaradamente com
deficiências estruturais e educacionais – é aprovado, via Ensino Médio Waldorf,
no curso de Física Médica da USP, sem a necessidade de um curso pré-vestibular.
Ou será que esse mérito é apenas do aluno?
Outro grande
sucesso de nossa escola é, no ano de 2013, ela ter ficado entre as quinze
melhores escolas de Ribeirão Preto em desempenho na redação do Enem. Simplesmente
houve um salto de quadragésimo lugar, em anos passados, para o décimo quinto!
O sentimento,
nesse caso, é de vitória absoluta, visto que naquele ano tínhamos um 12º ano de
13 alunos, enquanto as “excelentes escolas da cidade” possuem mais de uma sala
de terceiro ano do Ensino Médio e, em cada uma delas, há pelo menos 30 alunos.
Não há o que questionar, o bom trabalho evidencia-se concretamente em ótimos resultados
ano após ano.
Apenas mais dois
exemplos: uma aluna do 11º ano de 2013 obteve, dos 1.000 pontos do Enem, uma
nota acima de 600, com a qual ela seria aprovada em mais de 35 cursos
superiores. Detalhe, tal pontuação foi obtida sem que a mesma tivesse visto
todos os conteúdos da prova, uma vez que a estrutura pedagógica Waldorf segue
outros padrões de ensino, ligados à idade do aluno em questão. Outra aluna da
mesma sala foi aprovada no curso de Administração Industrial da ETEC, curso
este bastante concorrido.
Em vista desse
histórico positivo, fica a questão: por que carregamos o estigma de escola que
não prepara, de Ensino Médio que descarta a existência do vestibular e, pior,
de que não dá chances ao nosso aluno de obter tal sucesso?
O que se faz na Escola Waldorf João Guimarães
Rosa é desenvolver inteligências, habilidades para que, assim, os bons frutos
sejam colhidos naturalmente, como partes de um processo educativo por
excelência. Nesse sentido, cumprimos nosso papel com maestria!"
Alexandre D. C. Ferlim, professor de Gramática e Redação da
Escola Waldorf João Guimarães Rosa.
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